
Albergue Cittá di Castello

inauguração gelateria
NONA ETAPA – CITA DI CASTELO a PIETRALUNGA, 32KM
Acordamos em pleno domingo por volta das 07:30h e as 08:30h saímos do albergue para o início de uma longa jornada de 32 km sob sol muito forte. Estamos no dia primeiro de maio e ao passarmos pelas ruas do centro histórico notamos que existem preparativos em curso para a comemoração da data alusiva ao dia do trabalhador.
O grande problema que estamos enfrentando nessa caminhada é o peso da mochila. Eu por exemplo estou levando duas, sendo uma pequena que é colocada na parte da frente e de certa forma, ainda que incômoda, auxilia no equilíbrio. O Eduardo leva na sua bagagem um pesado saco de dormir e a bíblia que pesa mais de um kg. Para um percurso tão longo o peso das bagagens será muito sentido como acabou fazendo uma baita diferença pois cumprimos nossa jornada em cerca de 10 horas de caminhada mas totalmente esgotados.
Além da gratificante companhia perdemos os bandeirantes que certamente batalhariam nas próximas aldeias o transporte das mochilas já que para duas pessoas seria inviável em termos de preços. Lembrei da foto que a Ana Elisa pediu que fizesse, no dia anterior, antes de entrarem na estupenda Mercedes Benz que as levaria até a metade do caminho.

As trilhas do caminho são um pouco diferente nesta etapa pois caminhamos a maior parte do tempo em estradas secundárias de chão batido sendo que as vezes tivemos a oportunidade de caminhar em matas ou por trilhas nos campos. A beleza desta parte da Itália é vista nos morros, nas planícies. A região não é tanto montanhosa mas a partir de Sacro Cuore, 04 km depois, inicia-se um aclive que inclina-se pouco mais de 600 metros de altitude. Antes de Cai Giusti, após uma longa descida temos que fazer uma subida de mais 200 metros de altitude. Este tal sobe e desce sob sol muito forte aos poucos vai exterminando nossas forças, mas tudo é parte dessa grandiosa odisséia de seguir os passos de São Francisco.
O maior problema que enfrentamos, além do peso das mochilas, na verdade se tornou pequeno pois ficamos sem água no último terço do caminho além de termos nos perdido várias vezes pois a sinalização é dúbia, confusa e ineficiente nesta etapa, o que redundou certamente uns 38km na etapa do dia. Em vários momentos a única sinalização existente é a de um outro caminho franciscano (a propósito muito bem sinalizado). A falta de sinalização ou mesmo a inadequada sinalização do Caminho de Assis nesta etapa exige que a organização do caminho tome providencias para melhor sinalizá-lo sob pena do caminho cair em desgraça, especialmente pelo fato de que não há água potável e nem vilas de abastecimento em algumas etapas. Pelo menos aquele que tiver a oportunidade de fazer a leitura deste blog saberá a partir de agora que na falta de sinalização deverá seguir as indicações do caminho franciscano que possui as indicações na cor amarela enquanto o caminho de Assis tem sido sinalizado pela seta vermelha as vezes verde.
Consumi duas garrafas de água e uma coca cola. Neste percurso não existe água no caminho nem vilas onde se poderia adquirir alguma coisa. A sede era tanta que até uma gota de coca serviu para atenuar os lábios secos. Apenas na entrada de Pietralunga, ainda na zona rural, é que conseguimos água para beber e encher as garrafas. A água apareceu quando estávamos no limite de nossas forças e neste sentido eu e Eduardo questionamos que: a questão da água deveria ser esclarecida no inicio da peregrinação ou fosse informada as etapas em que há dificuldade de água.
No momento de intensa dificuldade e sofrimento, pelas adversidades apresentadas, nos perguntamos qual a razão para essas escolhas, a peregrinação, por exemplo, longe do conforto de nossas casas e famílias. Evidentemente que estamos num caminho novo que existe há pouco mais de dois anos e que não estamos no caminho de Santiago que possui mais de 1000 anos, forte estrutura e inclusive grande apelo espiritual.
Na intensidade de minha vida, especialmente profissional, chega-se um momento que estou doente, sem paz. A caminhada me liberta, retira todo o mal condicionado no organismo povoado por dias de intenso trabalho e estresse. Unem-se a caminhada à limpeza da alma e a necessidade de conhecer povos, culturas. Volto para casa leve, limpo, e exorcizado dos males da civilização. Por essa razão é que necessito, assim como água e alimento, caminhar, caminhar muito…Lhes digo com toda a profundidade que as trilhas, os povos, as culturas, a história, as cidades medievais, as metrópoles, os monumentos, são o tesouro escondido em minha mente que meus olhos, com a graça de Deus nosso pai, pode a mim proporcionar. Assim, eu e o meu amigo Eduardo temos isso em comum, ou seja, a necessidade de dar asas a alma para a pé nos salvarmos das doenças do mundo, sempre com Deus no coração.
Chegamos em Pietralunga e a cidade estava em festa, primeiro de maio. Bandas e bandas de rock e música popular se dividiam no entretenimento da comuna em plena praça, em frente à velha igreja. Bares lotados. Os italianos alegres e felizes, eu e Eduardo também.
Fomos à igreja, o padre não estava, pois estava hospitalizado em outra cidade. Não encontramos ninguém a espera de peregrinos, sequer conseguimos telefonar pois o padre estava doente. E agora? Há hotéis na vila e restaurantes.
No primeiro bar ao lado da igreja perguntamos sobre o albergue e um senhor muito atencioso nos atendeu, esposo da senhora que trabalha para o padre, levando-nos até o albergue que cobra apenas donativo. Veja-se que o peregrino nunca está só, sempre há alguém disposto a nos ajudar. Voltamos à praça e ficamos até o final da festa. Mais tarde num dos bares bebemos algumas cerveja (birra).
Boa noite, viva a Itália.

1º de maio - Pietralunga

casa de Garibaldi durante libertação Itália